Expressão “dor nas costas” bate recorde de buscas na Internet
Em época de pandemia, muitos são os assuntos que interessam a população em geral. Mas ao filtrar as pesquisas, foi possível constatar que as “dores nas costas” não só têm estado presentes nas queixas cotidianas e diálogos informais, como tem sido o objetivo principal de pesquisas na internet.
Desde o dia 26 de fevereiro, quando o país registrou o primeiro caso de contaminação por Covid-19, as pesquisas pela expressão cresceram 76%. O ápice foi no dia 26 de abril, no auge da pandemia, de acordo com o Google Trends, o serviço de análise de tendências do buscador.
Apesar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), afirmar que dor nas costas é um problema de saúde considerado mais comum entre os brasileiros e acomete mais de 16% da população ativa, tal interesse do momento, relaciona-se à pandemia do novo coronavírus.
Faz-se necessário compreender que as dores nas costas, não são necessariamente um sintoma do Covid19, contudo, dentre as consequências da pandemia, cita-se a mudança de hábitos na vida das pessoas, transformando suas rotinas em isolamentos parciais ou radicais, conforme o distanciamento social escolhido ou exigido que se siga. Sendo assim, as adaptações dos espaços nas organizações modificaram-se. Os colaboradores passaram a ter que manter quase dois metros de distância um dos outros, enjambrando sua ocupação no espaço que se permite e outros trabalhadores foram encaminhados ao home office. E aquele ambiente do trabalho, que já estavam acostumados, repentinamente fora improvisado (nem sempre da maneira mais adequada e saudável).
Diante das queixas tão recorrentes de dores nas costas, a Psicologia não poderia se abster em inferir com sua compreensão a partir de uma visão psicossomática. Sendo assim, destacamos a primeira aparição do termo PSICOSSOMÁTICO, em 1818, pelo psiquiatra alemão Heinroth, ao relacionar à insônia e a influência das paixões na tuberculose e epilepsia. Mas a compreensão desse termo se deu com as posteriores descobertas de Freud a partir da reflexão entre o psíquico e o somático, fazendo as primeiras referências da psicanálise para pensar a relação entre fatores psíquicos e doenças orgânicas.
Ainda contextualizando historicamente a psicossomática, Franz Alexander, com sua Escola de Chicago e Spitz com a Escola Psicossomática de Paris, trouxeram uma rica contribuição desenvolvendo uma teoria que buscava as relações entre emoções reprimidas e suas repercussões no corpo físico, desencadeando a muitos sintomas… Estes estudos levaram o aprofundamento teórico, resultando em 1972 a criação do Instituto de Psicossomática, sob a direção de Pierre Marty, com a finalidade de formar psicossomaticistas, promovendo a pesquisa e fornecendo atendimentos clínicos.
Posterior a essa contextualização tempo-espaço, constata-se que a ansiedade, o estresse, a insônia e a depressão, podem gerar dores crônicas em todo o corpo, especialmente em áreas de sustentação, como as costas. Algumas destas dores podem ser chamadas então, de sintomas psicossomáticos, ou seja, quando a dor que é entendida como um sinal físico, é a consequência de alterações psicológicas.
Refere-se a algumas dores, pois se fazem necessários a investigação, avaliação e diagnóstico médico dessas dores, para que depois de descartadas algumas patologias ortopédicas/traumatológicas, possa se relacionar tais sintomas ao estado emocional alterado que pode influenciar na postura do indivíduo, bem como sua tensão e contração dos músculos, provocando dores e mal-estar.
Como ilustração, destacam-se como o senso comum expressa cotidianamente suas sensações: “Carrego um peso enorme nas costas”… Referindo-se a uma bagagem emocional muito grande e a dificuldade da sua coluna suportar tal peso, gerando assim muitas dores.
A psicoterapia pode auxiliar no tratamento de pacientes que enfrentam essa situação, a partir de um processo terapêutico de autoconhecimento, identificação dos aspectos que lhe causam mais estresse e/ou ansiedade, na análise da forma como sua família sempre lidou com problemas em geral e na construção de estratégias de como lidar com tudo isso.
Outro recurso para acabar com essas dores nas costas é a Medicina Tradicional Chinesa, com as diversas técnicas de Acupuntura, como por exemplo, o agulhamento sistêmico, a moxaterapia, a ventosaterapia, a eletroacupuntura, a auriculoterapia, entre outros.
Como todo tratamento para dor, além de focar na amenização dos sintomas, a Acupuntura conta com outras ciências, pois entende o ser humano integral, corpo, mente e energia. Por isso, a fim de atingir seus objetivos de melhora em menos tempo e com eficácia, associa a prática de atividades físicas, devidamente orientadas por um “educador físico”.
Sendo assim, as orientações do profissional de Educação Física, visam esclarecer questões posturais, adaptações saudáveis para que se evite as dores nas costas. Para tanto, cita-se o seguinte conceito, segundo o “Comitê de Postura” da American Academy of Orthopaedic Surgeons em 1947 diz:
“Postura define-se como o arranjo relativo das partes do corpo. A boa postura é o estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de suporte do corpo contra lesão ou deformidade progressiva independentemente da atitude (ereta, deitada, agachada, encurvada) nas quais essas estruturas estão trabalhando ou repousando. Sob tais condições os músculos funcionam mais eficientemente em posições ideais são proporcionadas para os órgãos torácicos e abdominais.”
Com este conceito estabelecido, constata-se que dificilmente as pessoas têm à disposição, em suas residências, estrutura adequada para uma jornada de trabalho que proporcione o devido conforto e regulações ergométricas importantes para o correto desempenho das demandas em home office. Por esta razão, adaptam o corpo em busca de uma posição mais confortável e que não impeça a atividade exercida. Fato que pode gerar desvios no “padrão postural”.
“A má postura é uma relação defeituosa entre várias partes do corpo que produz uma maior tensão sobre as estruturas de suporte e onde ocorre um desequilíbrio menos eficiente do corpo sobre sua base de suporte” (American Academy of Orthopaedic Surgeons, 1947).
Alguns dos desvios posturais mais comuns encontrados nos novos adeptos do trabalho domiciliar, em especial, estão na coluna. Podemos citar principalmente a projeção da cabeça e ombros à frente, aumentando a cifose torácica e cervical, e retroversão da pelve (aquela “escorregada” a frente do bumbum na cadeira).
E é preciso entender que cada um desses desalinhamentos causa encurtamentos e alongamentos de músculos diferentes. O que gera estresse demasiado em todas as estruturas que compões as articulações, causando dores.
Existem duas formas de combater os problemas posturais, uma é adotando uma rotina de exercícios físicos com series de alongamentos, enfatizando as áreas mais comprometidas. E se as academias não forem uma opção para o presente momento de pandemia, há “professores/personais” aptos a desenvolver um trabalho em domicílio. Outra forma é a adequação e regulação dos equipamentos e estrutura de trabalho ou de uso cotidiano de forma ergonômica.
Os princípios da ergonomia relacionam o entendimento das interações entres os seres humanos e outros elementos ou sistemas, a fim de incrementar o bem estar e o desenvolvimento das atividades. Os critérios ergonômicos beneficiam a todos, desde os trabalhadores, aos usuários/consumidores e a própria empresa, pois aperfeiçoa processos, reduzindo custos provenientes de afastamentos e propiciando uma produção mais adequada às necessidades do mercado.
A ergonomia segue os parâmetros presentes na Norma Regulamentadora número 17 (NR-17), do Ministério do Trabalho, que visa estabelecer adaptações das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores. Respeitar a ergonomia é respeitar o ser humano, levando em consideração suas capacidades e limitações, fazendo com que o ambiente, as máquinas e os equipamentos sejam adaptados a ele, não o contrário. Esta forma de atenção visa proporcionar máximo conforto, sem renunciar à segurança e o desempenho eficiente das atividades.
Em conjunto com as demais áreas da saúde relatadas neste artigo, a ergonomia indica alguns cuidados simples que capazes de promover a conservação de uma coluna saudável. Confira abaixo a listagem das 5 dicas:
• Alongue-se
O alongamento é uma prática muito indicada para pessoas que trabalham ou permanecem por longos períodos na mesma posição ou ainda, com pouca variação de movimentos. É responsável pela ativação da circulação sanguínea, o que ativa a musculatura ligada a coluna, prevenindo sobrecarga de vértebras e lesões por falta de movimentação.
• Dê uma pausa nas suas atividades e se movimente
Esta dica beneficia a saúde geral do indivíduo. É ideal para manter o equilíbrio físico e mental, pois melhora a oxigenação do organismo. Recomenda-se pausas a cada 30 minutos ou até, no máximo 2 horas. Durante estes intervalos, faça pequenas caminhadas, conforme disponibilidade e capacidade física.
• Adeque os assentos
Sempre que possível, desempenhe suas atividades em cadeiras que permitam o correto apoio do corpo para que não haja desconforto e o aparecimento de possíveis dores. O ideal é que a cadeira possua regulagem de altura e mantenha os pés totalmente apoiados no chão. O encosto deve ser firme e manter a região lombar estável. A presença de braços também é importante, pois certifica que os antebraços permaneçam apoiados e confortáveis.
• Posicionamento dos membros inferiores
Caso não seja possível ajustar seu assento de forma a apoiar os pés completamente no chão, indica-se a utilização de um apoio portátil. Os joelhos também merecem atenção quanto ao seu posicionamento. Estes devem ficar em um alinhamento levemente mais baixo que o quadril, evitando possível compressão ou sobrepeso na articulação. O simples ato de cruzar as pernas também deve ser evitado, pois pode afetar a circulação das pernas e pés.
• Posicionamento da cabeça e ombros
Em caso de necessidade em permanecer longos períodos à frente do computador, notebook, monitor e/ou qualquer dispositivo semelhante, procure manter sua cabeça a uma distância entre 45 a 70 centímetros da fonte emissora de luz. Mantenha a cabeça reta, uma vez que deixá-la inclinada tanto para baixo, quanto para cima favorece distensões musculares e dores no pescoço. Os ombros devem estar inclinados levemente para trás, mantendo o correto alinhamento da musculatura e coluna.
Por Cristiane Richter, Psicóloga & Acupunturista no Espaço Vida Centro Terapêutico.
Fernanda Trindade da Silveira, Engenheira Química e Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho.
Matheus Richter Freitas, Professor de Educação Física e Personal Training.
Referência Bibliográfica
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