Dermatoses psicossomáticas: as emoções à flora da pele

Por Maíra Mendes dos Santos

A pele, o maior órgão do corpo humano, é responsável por uma série de funções relacionadas à sobrevivência, como a regulação térmica, controle do fluxo sanguíneo e proteção contra agentes do meio ambiente. Tão importante quanto ao controle do funcionamento do organismo, a pele exerce um papel crucial na regulação emocional, sendo lócus de manifestações de conflitos psicológicos.
Para compreendermos a relação entre pele e mente, é necessário considerarmos como se desenvolve o corpo humano. Tanto a pele quanto o cérebro se originam da ectoderme, a camada mais externa das células embrionárias, o que gera uma complexa interação entre os sistemas neuroendócrino e imunológico.
A psicodermatologia é uma especialidade que estuda as interações entre a mente, em especial as emoções, e a pele. As dermatoses psicossomáticas (também denominadas como doenças psicodermatológicas) podem ser causadas por disturbios psiquiátricos, nos quais as doenças dermatológicas são autoinduzidas, como a dermatite artefata, tricotilomania e distúrbio dismórfico corporal. Podem também desencadear distúrbios psiquiátricos de forma secundária, pela mudança estética produzida a partir da dermatose, como ocorre com a vitiligo, alopecia aerata, entre outros; ou ainda apresentar, dentre várias outras causas, uma relação com estados emocionais, como ocorre com a psoríase, dermatite atópica, acne, formas crônicas de urticária e a hiperidrose.
Como limite entre o eu e o ambiente externo, a pele participa do processo de desenvolvimento da individuação, auto-imagem e autoconfiança, fatores que influenciam fortemente nas relações interpessoais e nas interpreções das experiências pessoais. Dessa forma, as experiências do indivíduo na primeira infância podem ser fatores de risco ou proteção para o aparecimento de dermatoses psicossomáticas de acordo com a qualidade da relação mãe-bebê.
Pacientes com dermatoses costumam vivenciar situações de discriminação social, que levam a sentimentos de inadequação, vergonha, distorção da imagem corporal e baixa autoestima. Tais vivências podem gerar certo retraimento do indivíduo e aumento do nível de estresse, que por sua vez, tendem a resultar na piora do diagnóstico. O impacto psicossocial depende dos fatores de vulnerabilidade do indivíduo, relacionados com características demográficas, traços de personalidade e o significado da doença pela família e comunidade.
Quanto mais precoce o diagnóstico e o tratamento dessas doenças, melhor o seu prognóstico. É de extrema importância, nesse contexto, compreender as dermatoses não apenas como uma reação orgânica, mas como uma representação psíquica formada a partir da história de vida dos indivíduos.O tratamento psicológico, associado ao médico, é essencial para a melhora do quadro clínico e para auxiliar os pacientes a lidar com a sua condição médica, de modo a evitar situações de retraumatização, tão comuns na vida dessas pessoas.

Conteúdo publicado originalmente por Maíra Mendes dos Santos no site de Psicologias do Brasil.

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