Você Sente Medo? Medo e Fobias em Tempos de Pandemia

Em maio de 2020, fora publicado um artigo intitulado “A Famosa Ansiedade e a Diferença da Síndrome do Pânico”, com o objetivo de compreender e diferenciar estes dois problemas enfrentados durante o início da pandemia do Coronavírus.

Dando continuidade ao tema, diante das manifestações de medo que surgem nas consultas psicoterapêuticas, bem como em outros momentos até mesmo informais, constata-se a relevância em se falar sobre este, pois o medo é complexo, tendo em vista a singularidade do ser humano e a infinidade de fatores psicológicos capazes de desencadeá-lo em diferentes faixas-etárias.

Tem sido recorrente a queixa nas consultas psicológicas e/ou médicas, que o sentimento do medo tem trazido sofrimento e preocupação, na medida em que apavora, paralisa, impede ações e angustia a pessoa por inúmeras razões, até mesmo por motivos não identificados num primeiro momento.

A fim de elucidar sua origem, analisa-se a etiologia da palavra MEDO, que vem do latim METUS, referindo a “inquietação, temor, ansiedade”. Verificando seus sinônimos mais próximos, cita-se PÂNICO, que do latim PANICUS, expressa terror. E a palavra PAVOR, que no latim é o mesmo que TEMOR (no latim TIMOR) ampliando assim a compreensão de seu significado.

Nesta revisão bibliográfica objetiva-se realizar uma sucinta explanação de conceitos, tipos de medos e fobias.  Aludindo também costumes e crendices da cultura popular brasileira sobre o medo, as quais influenciam o comportamento de gerações.

Pode-se compreender o medo como um estado de alerta importantíssimo para a sobrevivência do indivíduo. Quando uma pessoa está isenta de qualquer medo, pode se expor a certas situações excessivamente perigosas, colocando inclusive sua própria vida em risco, sem a devida responsabilidade pelas possíveis consequências trágicas de seus atos.

Percebe-se que o medo pode ser entendido como positivo ou negativo, tendo em vista que há pessoas que sentem necessidade de senti-lo e escolhem até esportes radicais, por exemplo, os quais envolvem grande adrenalina, sentindo-se realizadas e até prosperam nessas práticas. Outras têm uma reação negativa ao medo, evitando situações produtoras de medo, custe o que custar…

Ao citar o COVID 19, suas possíveis complicações e prognósticos muitas vezes desfavoráveis, torna-se praticamente impossível não temer a contaminação. Conclui-se então, que este é um medo coerente e real, o qual motiva as pessoas a usarem todas as medidas de biossegurança a fim de protegerem-se. Entretanto, passa a ser desmedido, o medo que impede as pessoas de dormirem uma boa noite de sono, de passarem um dia tranquilo, seguindo o isolamento social e os protocolos orientados pelos órgãos de saúde.

Muitas pessoas questionam sobre as causas do medo e de seu agravamento. Acredita-se que esses sentimentos, os quais podem ser identificados como sintomas, podem originar-se por questões relacionadas ao histórico de vida e ambiente familiar, bem como por traumas de situações ocorridas no passado, seja social, pessoal ou momentâneo.

Muitos desses medos, geram uma ansiedade desmedida, podendo ser relacionados a diversos fatores que podem não ter sido resolvidos emocionalmente e que acabam se transformando em diferentes transtornos.

Para que o profissional PSICÓLOGO (de modo geral, tratará das causas e formas saudáveis de lidar com estes sentimentos) ou o médico (de modo geral tratará os sintomas) fechem o diagnóstico, serão necessárias consultas, nas quais irão considerar as queixas por sintomas, além do histórico emocional e clínico, usando diferentes metodologias, conforme a abordagem clínica de cada especialista. Cabe afirmar que não existe um exame laboratorial que defina um diagnóstico de fobia, ou de ansiedade, por exemplo, se o “medo” for assim associado.

Ressalta-se que a fobia nem sempre é constatada como uma doença, pois ela pode ser apenas um sintoma ocasionado por outro transtorno. Ainda assim, não se descarta esse sentimento de medo exacerbado, muitas vezes incoerente com a situação, pois é algo completamente diferente de ter uma ansiedade relacionada à expectativa de algo importante, fato comum para algumas pessoas.

Segundo Dalgalarrondo (2006) apud Mira y López (1964), o medo se apresenta em escalas e vai gradualmente aumentando, tornando-se quase que insustentável. Posteriormente, retorna lentamente até que a pessoa tenha seus sentimentos e emoções estabilizadas novamente, num processo sofrido, confuso e até mesmo constrangedor. O autor divide essa escala do medo em seis fases de acordo com o grau de extensão:

  1. Prudência;
  2. Cautela;
  3. Alarme;
  4. Ansiedade;
  5. Pânico (medo intenso);
  6. Terror (medo intensíssimo).

O mesmo autor ainda completa sua compreensão a cerca do medo, com a seguinte afirmação:

O medo é um estado de progressiva insegurança e angústia, de impotência e invalidez crescentes, ante a impressão iminente de que sucederá algo que queríamos evitar e que progressivamente nos consideramos menos capazes de fazer. (DALGALARRONDO, 2006, p. 109)

Ao apresentar estudos sobre o medo, torna-se indispensável discorrer sobre a FOBIA, pois ela há medos exacerbados, desproporcionais, limitantes e psicopatológicos. Este problema pode tornar-se tão sério, fazendo com que o indivíduo mude sua rotina, devido esse medo, podendo ter sua vida pessoal e social comprometida e ameaçada, trazendo grande sofrimento por isso.

A fobia, diferente do comportamento que o medo produz, preparando-o para decidir entre lutar ou fugir paralisa a pessoa. Sim, a fobia, impede que o indivíduo se relacione com o objeto de seu medo.

As fobias mais citadas pelas pessoas são: Medo de cães, chamada de cinofobia, o Medo de aranhas, conhecido como aracnofobia (já foi até tema de filme), o Medo de baratas e outros insetos, chamado de entomofobia, o famoso Medo de viajar de avião, que é aerofobia, o Medo de lugares fechados, chamado de claustrofobia, que inclusive é pauta de piadas e bulling em muitos grupos, entre outras.

Os transtornos fóbicos, conforme cita o CID 10, constituem um grupo de doenças mentais onde a ansiedade é relacionada especificamente a uma situação ou objeto. Apresentam-se resumidamente os três tipos principais de fobia:

  1. Agorafobia: inclui medo de espaços abertos, da presença de multidões, da dificuldade de escapar rapidamente para um local seguro (em geral a própria casa).
  2. Fobia social: neste caso a pessoa tem medo de se expor a outras pessoas que se encontram em grupos pequenos. Isto pode acontecer em reuniões, festas, restaurantes e outros locais. Em casos extremos pode isolar-se completamente do convívio social.
  3. Fobia especifica (ou isoladas): são fobias restritas a uma situação ou objeto altamente específico, tais como, animais inofensivos (zoofobia), altura (acrofobia), trovões e relâmpagos (astrofobia), voar, espaços fechados (claustrofobia), dentista, sangue, doenças, pandemias, (nosofobia), médico (popularmente conhecida como síndrome do jaleco branco) entre outros.

No que diz respeito às crendices populares sobre a temática do medo, pode-se mencionar as inúmeras cantigas de ninar que provocam medo nas crianças, mesmo que de maneira discreta, com o objetivo de amedrontar para limitar, para “educar”. Todas elas trazem um contexto que propicia a introjeção no inconsciente da criança, de personagens monstruosos que tem cara preta, que pegam as criancinhas, falam de pais que não ficam com os filhos para irem trabalhar na roça, induzindo um sentimento de abandono, de um lobo-mau que faz das crianças mingau, etc. 

Estes medos da primeira infância, de modo geral, podem ser superados com a descoberta da inexistência daqueles personagens assustadores, a partir da consciência de que não passavam de fantasias. Entretanto, se estes forem usados de maneira ameaçadora, por muito tempo, podem trazer agravamentos e consequência psicoemocionais.

Não podemos precisar que todos os tipos de fobia podem ter cura, tudo vai depender da eficiência e comprometimento com o tratamento, e com a intensidade desses sintomas a serem trabalhados.

Iniciar um processo de psicoterapia para curar-se de medos incapacitantes demonstra ser uma das melhores alternativa para o equilíbrio da saúde física e mental. O medo e a fobia podem implicar no desenvolvimento da independência e na conquista da autonomia do indivíduo que apresenta essa dificuldade.

Não tenha dúvidas em buscar ajuda profissional de um psicólogo.  Através da psicoterapia a pessoa pode superar medos e fobias, bem como desenvolver habilidades emocionais, sociais, promovendo o autoconhecimento, os quais favorecem o crescimento pessoal e até profissional.

Por Cristiane Richter, Psicóloga & Acupunturista no Espaço Vida Centro Terapêutico.

 

Referência Bibliográfica

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ABLA, Dalmara Marques. Experiência de Saber – Escola Letra Freudiana – Reflexões sobre o objeto no medo e na fobia. Ed. 7 Letras, 2009.

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RICHTER, Cristiane. A Famosa Ansiedade e a Diferença da Síndrome do Pânico. Disponível 03/08/2020.

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2000.

FERRARI, Juliana Spinelli. Medo; Brasil Escola. Acessado em 13/08/2020.

HALL, Calvin S. GARDNER, Lindzey. CAMPBELL, John B. Teorias da Personalidade. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese – 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

LOPES, Maria Graciete Carramate. PAULINO, Roseli A. Fígaro. Discurso e Formação de Valores nas Canções de Ninar e de Roda. Revista Iniciacom – Vol. 2 No 1. 2010.

PAULI, Alice Atsuko Matsuda; SILVA, Andréa Cristina Fontes; BRANCO, Patrícia Martins Castelo. Histórias de Assombração: Quem tem medo de quê? Revista Eletrônica de Educação. Ano I, No 01, ago/dez. 2007.

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